EU, CRIANÇA

Medos na infância

O medo faz parte do desenvolvimento normal das crianças. É uma resposta emocional a um acontecimento (real ou imaginário) que é interpretado como ameaçador, mas que pode ser benéfico para agir em situações de perigo, pois funciona como um estado de alerta. O medo deixa de ser normal quando está associado a elevada ansiedade e quando influencia as atividades diárias da criança.

Os medos geralmente variam conforme a etapa de desenvolvimento, e os mais comuns são os seguintes:

  • 0 - 6 meses: perda, barulhos intensos;
  • 7 - 12 meses: estranhos, objetos súbitos e inesperados;
  • 1 ano: estranhos, separação dos pais, casa de banho;
  • 2 anos: separação dos pais, barulhos intensos (aspiradores, sirenes, alarmes, trovoada), animais, escuro, mudanças no ambiente da criança, objetos grandes;
  • 3 anos: separação dos pais, escuro, máscaras, barulhos estranhos;
  • 4 - 5 anos: separação dos pais, animais, escuro, barulhos noturnos;
  • 6 anos: seres sobrenaturais (fantasmas, bruxas), escuro, estar sozinho ou dormir sozinho, trovoada;
  • 7 - 8 anos: seres sobrenaturais, estar sozinho, ladrões, escuro, notícias vistas na televisão (rapto de crianças);
  • 9 - 12 anos: Escuro; Desempenho escolar; Aparência física; Trovoada; Morte.

Os pais podem ter um papel fundamental para ajudar a criança a encontrar formas positivas para superar os seus medos. Esta abordagem passa pela tranquilização firme e segura, pela educação e explicação acerca do medo e por estratégias para o desconstruir, como jogos que incluam o alvo do medo. Quando o medo for intenso, gerar na criança um sofrimento intenso, ou quando ela começar a perder contacto social ou escolar, deve procurar a ajuda de um psicólogo.

Bibliografia: Olds, S., Papalia, D., Feldman, R. (2009). O Mundo da Criança. Lisboa: McGraw-Hill

Pondé, D. (2011). O conceito de medo em Winnicott. 6(2).


Mutismo seletivo

O mutismo seletivo é uma perturbação de ansiedade na infância em que a criança recusa falar em determinadas situações sociais, em que é esperado que fale (por exemplo, na escola), embora o faça noutras situações (por exemplo, em casa).

Normalmente, as crianças com mutismo seletivo têm dificuldades nas interações sociais, em estabelecer contacto visual, em expressar sentimentos e podem ficar paralisadas em certas situações específicas que lhe causem muita ansiedade.

Em situações não familiares, a criança pode apresentar uma timidez excessiva, evitar a situação, isolar-se, ter birras ou até comportamentos de oposição ligeiros.

As consequências desta perturbação incluem baixo rendimento académico, pois compromete a comunicação com os outros. Os professores, por exemplo, têm dificuldade em avaliar as suas capacidades (ex. de leitura). Quando não existe tratamento, o mutismo pode manter-se até à idade adulta.

Se identificou estas características no seu filho, o que pode fazer?

  • Não forçar a criança a falar;
  • Elaborar formas alternativas de comunicação (ex: através de símbolos, gestos ou escrita);
  • Incentivar a prática de atividades ou desportos que permitam a interação social e o aliviar de algumas tensões;
  • Responsabilizar a criança por pequenas rotinas domésticas que estimulem a autonomia e a interação verbal e não-verbal (como ir comprar pão);
  • Reforçar a criança sempre que houver um aumento no seu comportamento verbal, direcionando às preferências da criança (elogios, abraços, passeios, etc.);
  • Procurar a ajuda de um psicólogo.

Bibliografia: American Psychiatric Association. (2014). DSM-V: Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais (5.ª ed.). Lisboa: Climepsi.


Bullying

O bullying é uma forma de violência intencional entre pares (crianças e jovens) e repetida ao longo do tempo. Existe um desequilíbrio de poder, em que uma parte agride e/ou controla a outra. Inclui comportamentos como bater, ameaçar, partir objetos pessoais, gozar, provocar, excluir do grupo, criar rumores, perseguir, entre outros, que tanto podem ocorrer na escola ou fora dela, como a caminho de casa ou numa visita de estudo, ou através da internet (no facebook, através de mensagens, etc.).

O bullying não é normal, não faz parte de "ser criança" e é bem distinto das brincadeiras de "andar à luta", que não tem qualquer intenção de magoar. Qualquer que seja a forma de bullying, existe sempre uma grande violência psicológica que causa mal-estar, desconforto, medo e insegurança na vítima. Afeta a sua saúde física e mental, podendo ter consequências graves como depressão ou até levar ao suicídio.

Por vezes, pode ser difícil perceber se uma criança está a ser vítima de bullying, pois estas habitualmente permanecem em silêncio quanto às agressões, para tentar evitar retaliações por parte do agressor, por vergonha ou medo de ser culpabilizadas. É importante estar atento a alterações de humor, queixas físicas sem explicação aparente, diminuição do rendimento escolar, recusa em ir à escola, pesadelos e isolamento social.

Os envolvidos em situações de bullying, tanto as vítimas como os agressores, devem ter acompanhamento psicológico, de forma a alterar o seu padrão de relacionamento com os outros. Para além disso, os pais e educadores têm também um papel importante, devendo falar com as crianças e jovens sobre o bullying e incentivar a denunciar situações que conheçam, reforçando também que a violência não se resolve com mais violência!

Fontes: https://escolasaudavelmente.pt/pais/comunicar-com-os-filhos/falar-sobre-o-bullying

https://www.apavparajovens.pt/pt/go/o-que-e2

Ansiedade de separação

A ansiedade de separação pode fazer parte do desenvolvimento normal de uma criança, referindo-se ao medo de se separar ou perder as figuras significativas. No entanto, quando esta ansiedade se torna excessiva, durante pelo menos um mês, de tal modo que interfere com o funcionamento da criança e/ou causa sofrimento significativo, estamos perante uma Perturbação de Ansiedade de Separação, que se caracteriza por:

  • Medo ou ansiedade excessivos antes de ocorrer a separação de casa ou das figuras de vinculação;
  • Preocupação constante acerca da possibilidade de perder as figuras significativas ou de perigos a que estejam sujeitas (por exemplo, doenças ou acidentes);
  • Preocupação excessiva sobre a possibilidade de ser separado da figura de vinculação devido a um acontecimento indesejado (como ser raptado ou ficar doente);
  • Resistência constante em sair de casa ou recusa em ir à escola;
  • Medo excessivo em ficar sozinho ou sem as figuras significativas, em casa ou noutros locais;
  • Relutância ou recusa em dormir fora de casa ou adormecer sem estar com a figura significativa;
  • Pesadelos constantes acerca da separação;
  • Queixas repetidas de sintomas, como dores de cabeça, náuseas ou vómitos, quando há ou antecipa a separação das figuras de vinculação.

É comum crianças com perturbação de ansiedade de separação manifestarem apatia, tristeza, retraimento social ou dificuldades de concentração quando ocorre a separação das figuras significativas. Por vezes, podem até manifestar raiva ou agressão perante a pessoa que está a forçar a separação. À noite, especialmente no escuro, também é frequente estas crianças mencionarem experiências incomuns, como ver criaturas assustadoras ou ver pessoas a observá-las. Na hora de dormir, insistem em ter alguma companhia até adormecer ou em dormir na cama dos pais.

Existem formas de lidar com a ansiedade de separação, pelo que é importante as figuras parentais não demonstrarem a sua ansiedade para também não a aumentar na criança e para que esta se sinta segura. É importante tentar compreender as causas do medo da separação e ajudar a criança a lidar gradualmente com ela, aumentando a sua autoeficácia e autoconfiança.

Bibliografia: American Psychiatric Association. (2014). DSM-V: Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais (5.ª ed.). Lisboa: Climepsi.

https://www.oficinadepsicologia.com/ansiedade-de-separacao/


Perturbação Desafiante de Oposição 

A Perturbação Desafiante de Oposição é caracterizada por um padrão de comportamento agressivo, hostil, desafiante e de desobediência, com maior frequência e intensidade do que é normalmente "esperado" em crianças da mesma idade. Habitualmente, estes comportamentos observam-se perante figuras de autoridade, tal como pais e professores, e interfere na vida familiar, escolar e social. Estes comportamentos podem ocorrer apenas num contexto, sendo o mais comum ocorrerem em casa, no entanto também se podem generalizar a outros ambientes (escola, atividades extracurriculares...), sendo isso um indicador de maior gravidade. São exemplo desses comportamentos os seguintes:

  • Irritar-se e perder a calma facilmente;
  • Questionar e desafiar figuras de autoridade (pais, professores), recusando acatar pedidos ou regras estabelecidas por estes;
  • Incomodar ou irritar as outras pessoas deliberadamente;
  • Culpar os outros pelos seus erros ou mau comportamento;
  • Atitudes rancorosas ou vingativas.

A manifestação desta perturbação pode ser diferente consoante a idade, sendo que crianças mais novas tendem a demonstrar elevada intolerância à frustração e dificuldade em adiar a gratificação, perdem facilmente o controlo, mostrando-o por exemplo com pontapés. Por outro lado, crianças mais velhas revelam problemas de comportamento passivo-agressivo e são mais teimosas e propensas a discussões. A perturbação desafiante de oposição é mais comum no sexo masculino.

Na origem desta perturbação podem estar vários fatores, nomeadamente o temperamento da criança (baixa tolerância à frustração, elevada reatividade emocional). Além disso, estilos parentais agressivos, inconsistentes ou negligentes também parecem estar associados à perturbação.

Quanto mais precoce for a intervenção, maior a probabilidade de ela ser eficaz e gerar resultados positivos. Uma intervenção individual, familiar e/ou escolar deve ser escolhida consoante os objetivos e contextos em que ocorram os comportamentos problemáticos. Os objetivos consistem essencialmente em diminuir os comportamentos agressivos, aprender a gerir as emoções, nomeadamente a cólera, diminuir a tensão familiar e melhorar a qualidade das interações sociais, promovendo o respeito e cooperação.

Bibliografia: American Psychiatric Association. (2014). DSM-V: Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais (5.ª ed.). Lisboa: Climepsi.

https://www.itad.pt/perturbacao-desafiante-de-oposicao/

Enurese

A enurese, mais conhecida na gíria pelo "chichi na cama ou nas cuecas", é uma perturbação de eliminação que ocorre na infância.

Consiste em perdas repetidas de urina, voluntárias ou involuntárias, na cama ou na roupa, pelo menos duas vezes por semana, durante três meses consecutivos. Pode diagnosticar-se enurese em crianças com mais de cinco anos, em que estas perdas de urina são incomuns para a idade da criança e não se devem a falta de controlo da bexiga por doença neurológica, anomalia do trato urinário ou ataque epilético. 

A enurese pode ser primária (quando a criança ainda não adquiriu a capacidade de controlo dos esfíncteres) ou secundária (caso já tenha adquirido essa capacidade e tenha um período de regressão). Pode também ser diurna ou noturna, caso as perdas de urina ocorram durante o dia ou durante o sono noturno, respetivamente. Manifesta-se mais frequentemente nos rapazes do que nas raparigas.

Habitualmente, a enurese tem um impacto significativo no comportamento e bem-estar da criança, bem como da família. Esta condição causa limitações nas atividades sociais da criança, rejeição social pelos pares, diminui a sua autoestima, para além de contribuir para irritação/punição dos pais. A origem pode estar em fatores hereditários/genéticos, num atraso geral do desenvolvimento, uma menor capacidade da bexiga ou história inadequada de aprendizagens e falta de contingências adequadas.

É importante procurar ajuda médica e psicológica para o tratamento da enurese, que pode incluir abordagens comportamentais, utilização de alarmes, técnicas de psicoterapia. Muitas vezes, certos problemas emocionais também melhoram com a resolução da enurese. O envolvimento dos pais é também fundamental, sendo que é importante:

  • Não dramatizar! A enurese é altamente prevalente e comum na infância;
  • Não culpar ou castigar o filho (em vez disso, recompensá-lo pelos sucessos alcançados);
  • Nem compará-lo com outras crianças "O Joãozinho é mais novo que tu e já não faz chichi na cama!", pois isso não ajuda a resolver o problema nem contribui para a sua autoestima;
  • Não desanimar! A enurese tem tendência a resolver-se com a idade e com ajuda profissional.

Bibliografia: American Psychiatric Association. (2014). DSM-V: Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais (5.ª ed.). Lisboa: Climepsi.

https://www.saudecuf.pt/mais-saude/doencas-a-z/enurese-noturna


Vício nos Jogos da Internet

Atualmente assistimos a muitas crianças e jovens envolvidos em jogos na internet, muitas vezes mais tempo e com mais frequência do que seria desejado. Mas quando é que podemos dizer que se trata de um vício, que já não é um comportamento normal? Estas são algumas das características às quais deve estar atento:

  • Preocupação constante com o jogo, pensando nos jogos anteriores ou antecipando os próximos;
  • Sintomas de abstinência, como irritabilidade ou ansiedade, quando os jogos de internet são retirados;
  • Agitação ou mesmo agressividade quando os jogos são interrompidos (ex. falha na internet);
  • Perda da noção do tempo durante o jogo, podendo estar várias horas a jogar;
  • Longos períodos de tempo sem dormir ou comer, para permanecer a jogar;
  • Perda de interesse noutras atividades, em consequência do envolvimento nos jogos de internet;
  • Aumento do tempo dedicado aos jogos online;
  • Enganar familiares, amigos ou terapeutas em relação à quantidade de tempo despendido no jogo;
  • Tentativas falhadas de controlar ou parar de jogar na internet;
  • Falhar a compromissos (ex. aulas, emprego) devido ao envolvimento no jogo;
  • Utilização do jogo como forma de aliviar ou evitar humor negativo (ex. ansiedade, culpa).

A dependência pelos jogos na internet torna-se patológica quando há um envolvimento recorrente, excessivo e prolongado em jogos de computador online. Os sintomas são semelhantes aos das perturbações por uso de substâncias, como perda de controlo e sintomas de abstinência, e os efeitos podem ser igualmente devastadores quanto o consumo de álcool ou drogas ilícitas. O vício nos jogos da internet interfere significativamente na vida das crianças e jovens, nomeadamente no seu desempenho escolar/profissional, nos relacionamentos sociais e familiares e no seu bem-estar físico e psicológico.

Bibliografia: American Psychiatric Association. (2014). DSM-V: Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais (5.ª ed.). Lisboa: Climepsi.

https://www.itad.pt/tratamento-de-psicologia/dependencia-da-internet-videojogos-criancas-jovens/



Perturbação do Desenvolvimento Intelectual

Caracteriza-se por importantes limitações, tanto no funcionamento intelectual quanto no comportamento adaptativo, expresso nas habilidades conceituais, sociais e práticas. Tem dificuldades para aprender, entender e realizar atividades comuns para as outras pessoas. Muitas vezes, chegam a comportar-se  como se tivessem menos idade do que realmente tem.

Possuem limitações significativas em pelo menos duas das seguintes áreas de habilidades:

  • Aprendizagem e autogestão em situações da vida, como cuidados pessoais, responsabilidades profissionais, controlo do dinheiro e do comportamento;
  • Comunicação
  • Habilidades ligadas à linguagem, leitura, escrita, matemática, raciocínio, memória;
  • Habilidades sociais/interpessoais (empatia, julgamento social e autorregulação)

Devem ser preencher os seguintes critérios:

A. Deficits nas funções intelectuais como raciocínio, resolução de problemas, planeamento, pensamento abstrato, juízo, aprendizagem académica e aprendizagem pela experiência confirmados tanto pela avaliação clínica quanto por testes de inteligência padronizados e individualizados.

B. Deficits em funções adaptativas que resultam em fracasso para atingir padrões de desenvolvimento e socioculturais em relação a independência pessoal e responsabilidade social. Sem apoio continuado, os deficits de adaptação limitam o funcionamento em uma ou mais atividades diárias, como comunicação, participação social e vida independente, e em múltiplos ambientes, como em casa, na escola, no local de trabalho e na comunidade.

C. Início dos deficits intelectuais e adaptativos durante o período do desenvolvimento.

De acordo com a gravidade pode ser:

  • Leve
  • Moderada
  • Grave
  • Profunda

Indivíduos do sexo masculino, em geral, têm mais propensão do que os do sexo feminino para receber diagnóstico de formas moderadas (razão média masculino/feminino 1,6 para 1) e graves (razão média masculino/feminino 1,2 para 1) de deficiência intelectual.

A Deficiência Intelectual não é uma doença mas sim uma limitação. O acompanhamento deve abranger uma equipa multidisciplinar constituída por médicos, psicólogos, terapeutas da fala e ocupacionais. As limitações podem ser superadas através da estimulação sistemática do desenvolvimento, adequações em situações pessoais, escolares, profissionais e sociais, além de oportunidades de inclusão social. Algumas instituições realizam trabalhos eficientes no sentido de promover o diagnóstico, a prevenção e a inclusão.

Bibliografia: American Psychiatric Association. (2014). DSM-V: Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais (5.ª ed.). Lisboa: Climepsi.

Correia, L. (1997). Alunos com Necessidades Educativas Especiais nas Classes Regulares. Porto: Porto Editora

Santos, S. & Morato, P. (2002). Comportamento Adaptativo. Porto: Porto Editora

https://aaidd.org/intellectual-disability

Birras

Uma birra é a expressão de uma diversidade de sentimentos. Elas surgem em ambos os sexos, com maior ou menor intensidade, sobretudo em crianças com idades compreendidas entre os 18 e os 48 meses, atingindo o pico por volta dos 2/3 anos.

Coincidem com a altura em que a criança está a adquirir autonomia e a tentar dominar o meio ambiente. Nestas idades as crianças recorrem à birra porque não possuem, ainda, mecanismos para lidar com a frustração, a sua linguagem verbal é insuficiente, não têm capacidade para perceber o futuro e adiar as suas vontades e têm poucas competências para resolver problemas. Deste modo ao recorrem às birras chamam a atenção dos adultos, sobretudo a partir dos três anos, quando já dominam melhor a linguagem falada, como forma de obter o que querem e de manipularem o adulto.

Normalmente, as birras são desencadeadas quando as crianças pretendem a sua autonomia e são incapazes de tomar decisões. Não são motivo para alarme, apesar de serem frustrantes e desagradáveis, uma vez que são formas de expressão das emoções que surgem de um cérebro imaturo; são também "normativas e desenvolvimentais", que tendem a desaparecer ao longo do tempo e desenvolvimento da criança.

Manifestam-se através do: choro, gritos, pontapés, rigidez, extensão dos membros e do tronco. A criança pode também bater nos outros, morder-se, atirar-se para o chão, espernear, fugir, atirar com objectos.

Há sinais que pais devem estar atentos e devem procurar ajuda especializada nomeadamente:

  • quando as birras aumentam de frequência, duração e intensidade, sendo impossível controlá-las;
  • quando a criança se magoa ou magoa os outros;
  • quando a criança destrói brinquedos ou outros objectos;
  • quando as birras ocorrem na escola;
  • quando os pais reagem com agressividade às birras dos seus filhos.

As birras excessivas ou as birras que se prolongam para além da idade habitual podem acompanhar certas perturbações do neurodesenvolvimento, como o défice cognitivo, as perturbações da linguagem, as perturbações do espectro do autismo, a perturbação de défice de atenção e hiperactividade, as perturbações da visão, as perturbações da audição ou as dificuldades escolares. Também fazem parte do quadro clínico de alguns síndromes de causa genética, como o Síndrome de Prader-Willi ou o Síndrome do X Frágil.

O modo mais eficaz de lidar com crianças que fazem birras é impedir que elas ocorram, percebendo deste modo quais são os fatores desencadeadores. Assim:

  • devem ser respeitadas as necessidades de sono da criança (necessidade de sesta);
  • deve-se evitar que a criança sinta fome, respeitando o horário das refeições;
  • os objectos proibidos devem estar fora da sua vista;
  • os brinquedos e jogos devem ser apropriados à sua idade, de modo a não causarem frustração;
  • sempre que possível, deve ser dada à criança a oportunidade de fazer escolhas (escolher a roupa ou os sapatos);
  • deve-se recorrer ao aviso prévio, (dizendo, por exemplo, à criança que irá para a cama assim que terminar a leitura da história ou logo que termine um certo programa de televisão).

Não se deve castigar a criança por fazer uma birra, nem se deve recompensar a birra, ou seja, fazer-lhe a vontade quando faz birra. Deve-se actuar logo no início da birra antes que a criança perca totalmente o controle, desviando a sua atenção, levando-a para outro local (ir para outra divisão da casa, sair do supermercado), contendo a criança no caso dela querer bater ou magoar-se, ignorando a birra nalguns casos ou usando o efeito de surpresa.

Bibliografia: Cordeiro, M. (2011). O Grande Livro dos Medos e das Birras. Lisboa: Esfera dos Livros.

Duarte, A. (2011). As Práticas Educativas Parentais e as Birras das Crianças. Dissertação de Mestrado submetida ao Instituto Superior Miguel Torga. Coimbra: Escola Superior de Altos Estudos.

Gouveia, R. (2009). As Birras na Criança. Revista Portuguesa de Medicina Geral e Familiar: https://www.rpmgf.pt/ojs/index.php?journal=rpmgf&page=article&op=view&path%5B %5D=10697

Olds, S., Papalia, D., Feldman, R. (2009). O Mundo da Criança. Lisboa: McGraw-Hil

Síndrome de Tourette

Segundo a Associação da Síndrome de Tourette, "desordem neurológica ou "neuroquímica" que se caracteriza por tiques (incontroláveis) -  movimento motor ou uma vocalização súbito(a), rápido(a), recorrente, e sem ritmo.

Os sintomas aparecem durante a infância e tendem a diminuir com a idade. Os tiques podem ser motores, principalmente na parte superior do corpo - cabeça, pescoço, ombros, são movimentos involuntários e súbitos causados por contrações musculares. Podem variar desde piscadas e movimento no ombro, a gestos obscenos e movimentos coordenados em duas ou mais áreas do corpo. Também há tiques sonoros, emitidos pela boca ou nariz, por exemplo: repetições de palavras, gritos e uso de palavras obscenas. O repertório de tiques é único para cada pessoa.

Os tiques podem interferir no desempenho escolar, na relação com os pares, na autoimagem e na dinâmica familiar, são vividos inicialmente como eventos "sem sentido", como movimentos isolados ou sons que de forma simples e rápida, explodem para fora do corpo ou da garganta. Inicialmente a criança não está ciente da ocorrência deles, mas com o passar do tempo vai-se tornado consciente. Muitos adolescentes e adultos, experimentam tiques iminentes, como um desejo irresistível, uma necessidade ou tentação que é impossível suprimir ou negar.

Entre 50 a 90% dos doentes desenvolvem pelo menos uma perturbação psiquiátrica ou comportamental. Destacam-se a Perturbação de Hiperactividade com Défice de Atenção e a perturbação do espectro obsessivo-compulsivo, como as mais frequentes, seguidas das dificuldades de aprendizagem e perturbações de ansiedade e do humor. Outras alterações que podem ocorrer são: depressão, insónia, redução da capacidade de controlo de impulsos, comportamentos de auto-agressão, redução das funções executivas, e outras alterações do comportamento.

A prevalência estimada varia de 3 a 8 a cada 1.000 crianças em idade escolar. O sexo masculino costuma ser mais afetado do que o feminino, com a relação de 2:1 a 4:1.

No tratamento deve-se  fazer uma análise das implicações que os sintomas têm na vida normal do doente.  O tratamento farmacológico deve ser integrado com intervenções psicoterapêuticas.

Bibliografia: American Psychiatric Association. (2014). DSM-V: Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais (5.ª ed.). Lisboa: Climepsi.

Oliveira, Ana, & Massano, João. (2012). Síndrome de Gilles de La Tourette: Clínica, diagnóstico e abordagem terapêutica. Arquivos de Medicina, 26(5), 211-217. Recuperado em 15 de feveiro de 2018, de https://www.scielo.mec.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0871-34132012000500003&lng=pt&tlng=pt.

Peterson, Leckman, & Cohen. (1995). Tourette´s Syndrome: A Genetically Predisposed and an Environmentally Specified Developmental Psychopathology. In D. Cicchetti, & D. Cohen, Developmental Psychopathology vol. 2- Risk, Disorder and Adaptation (pp. 213-235). New York: A Wiley Interscience Publication.

Perturbação de Hiperatividade / Défice de Atenção  (PHDA)

Tende a manifestar-se antes dos 12 anos, podendo ser evidente na idade pré-escolar. Para além disso, as queixas devem estar presentes em pelo menos dois contextos diferentes (escola e casa) e devem ter consequências significativas no dia-a-dia da criança, seja do ponto de vista social, seja no desempenho académico.

Afeta 5% a 8% das crianças em idade escolar. Isso significa que, em média, haverá uma criança com esta perturbação por cada 20 alunos.

Apresenta-se com mais frequência no sexo masculino, com uma relação de 2 para 1, ou seja, por cada rapariga que é diagnosticada com PHDA, são diagnosticados 2 rapazes.

É uma perturbação do neurodesenvolvimento. As crianças apresentam um conjunto de características típicas e comportamentos disruptivos (desatenção, agitação motora e impulsividade), que vão condicionar o seu desempenho nos diferentes contextos e atividades em que é exigido um comportamento adequado.

Deste modo, estas crianças tendem a apresentar com alguma frequência: dificuldades de aprendizagem, dificuldades no relacionamento com os pares, dificuldades em cumprir regras e a atingir objetivos, problemas de ajustamento psicossocial e imaturidade.

Sintomas:

- Défice de atenção: dificuldade em regular a atenção, ou seja, em permanecer atento aos estímulos que interessam e ignorar os que não interessam. As queixas típicas são a relutância em iniciar atividades que requerem concentração, interrupções frequentes, demora em concluir as tarefas e a desorganização.

- Hiperatividade: atividade motora excessiva em relação ao que era esperado para a idade; dificuldade em permanecer sentado, sossegado ou calado quando é necessário; necessidade de estar sempre em movimento ou a fazer alguma coisa.

- Impulsividade: dificuldade no controlo dos impulsos, em esperar pela sua a vez, passagem rápida ao ato sem antecipar as consequências.

De acordo com os sintomas que predominam, são reconhecidas três formas de apresentação da PHDA:

- Tipo desatento - com predomínio de sintomas de falta de atenção

- Tipo hiperativo - impulsivo, com predomínio de sintomas de hiperatividade e/ou de impulsividade

- Tipo combinado - quando está presente num número significativo dos três grupos de sintomas: desatenção, hiperatividade e impulsividade.

Normalmente surge com alguns problemas associados como: Dificuldades Específicas de Aprendizagem, (perturbação da leitura e da escrita (como a Dislexia), a disortografia, e a discalculia (dificuldades nas operações matemáticas)); Perturbação de Oposição-desafio; Perturbação do Comportamento; Perturbação da Linguagem; Perturbação do Desenvolvimento da Coordenação Motora; Perturbação do Sono e Perturbação de Ansiedade.

Tratamento

Para a definição do tratamento,deve-se ter em conta o perfil de cada criança, a repercussão dos sintomas nos vários contextos e os recursos disponíveis, definindo assim prioridades.

O processo de intervenção deve ser multimodal e englobar diferentes processos de intervenção: farmacológico (nos casos de maior gravidade dos comportamentos disruptivos, se não for complementada com as outras duas intervenções a sua eficácia a longo prazo poderá ser residual, os medicamentos mais frequentes são psicoestimulantes), psicoterapêutico (passando pela psicoeducação - explicação da PHDA, sintomas, como se manifesta e consequências; desenvolvimento de técnicas de gestão de comportamento, gestão emocional, controlo da impulsividade, gestão de tarefas, treino de competências; funciona também como um complemento a intervenção farmacológica) e psicossocial (engloba programas para pais, intervenção nas dinâmicas familiares e na relação pais-criança, programas de intervenção na escola, na sala de aula).

Dicas:

  • Tentar ter uma rotina - Ser organizado pode ajudar a ver onde é preciso estar, o que é preciso fazer e quando é que preciso fazê-lo;
  • Utilizar um bloco de notas ou um diário para anotar detalhes importantes como reuniões, compromissos e números de telefone;
  • Escolher um local agradável e sossegado para fazer os trabalhos de casa (menos distrações significam melhor concentração);
  • Fazer pausas enquanto se faz os trabalhos de casa, esticar as pernas ou dar uma volta;
  • Definir objetivos;
  • Fazer exercício regularmente (ajuda a aliviar o stress e a tensão);
  • Dividir as tarefas grandes em várias tarefas mais pequenas (para completar gradualmente).

Bibliografia: American Psychiatric Association. (2014). DSM-V: Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais (5.ª ed.). Lisboa: Climepsi.

https://www.clubephda.pt/clubephda/

https://www.phda-hiperatividade.pt/

Perturbação do Espectro do Autismo

É uma perturbação do neurodesenvolvimento, (condição médica do sistema nervoso central), que se manifesta na infância e que se caracteriza por dificuldades na comunicação e na interação social (défices: na comunicação verbal e não-verbal, na partilha de emoções) e por comportamentos, interesses ou atividades repetitivas e estereotipadas (rotinas obsessivas padrões ritualizados de comportamentos, movimentos motores e uso de objetos estereotipados ou repetitivos, interesses restritivos e fixos, híper ou hipo sensibilidade sensorial). Os sintomas podem variar entre graus, desde leve a severo.

Exemplificando os autistas fazem comentários pouco adequados, interpretam literalmente as conversas, ou seja, não percebem trocadilhos, metáforas ou a ironia, têm dificuldade em interpretar a comunicação não-verbal, e não fazem amizades facilmente. São também muito dependentes de rotinas, muito sensíveis a mudanças no seu dia-a-dia ou, por vezes, muito preocupadas com alguns objetos, ideias ou temas.

O autismo manifesta-se mais frequentemente no género masculino, a sua proporção é de 4 para 1. Ou seja há mais rapazes do que raparigas. Com o autismo também podem aparecer outros problemas, como a deficiência intelectual, a hiperatividade, o défice de atenção, a epilepsia, a ansiedade ou as perturbações do sono, que trazem ainda mais dificuldades. Os autistas podem também fazer coisas extraordinárias, por exemplo, fazem cálculos matemáticos extraordinários, pintam ou tocam um instrumento muito bem.

As alterações comportamentais típicas do autismo podem ser ou não visíveis na infância (18 a 24 meses), mas são de um modo geral mais evidentes entre os 2 e os 6 anos. Deve-se prestar atenção aos seguintes sinais:

  • A criança não balbucia nem emite sons aos 12 meses;
  • Não executa gestos (como apontar ou acenar) aos 12 meses;
  • Não pronuncia palavras simples aos 16 meses; não forma frases com duas palavras aos 24 meses;
  • Perdeu capacidades de linguagem ou competências sociais em qualquer idade.

A presença de um destes sinais não significa que a criança seja autista mas, uma vez que os sintomas do autismo são tão distintos, é importante, proceder a uma avaliação por uma equipa multidisciplinar, constituída por neurologistas, psicólogos, pediatras, terapeutas da fala e ocupacionais.

Quanto mais precocemente uma criança for diagnosticada, mais rapidamente se pode iniciar o trabalho e por conseguinte mais rapidamente ela poderá avançar. Os pais, os médicos, os terapeutas, e professores podem ajudar as crianças com autismo a ultrapassar ou a ajustarem-se às dificuldades. Aprender a falar é complicado para as crianças autistas, muitos percebem melhor as palavras quando as vêm, os terapeutas ensinam a comunicar com a ajuda de imagens ou com gestos, ensinam também a seguir direções, escovar os dentes, etc. Crianças com autismo ligeiro podem mesmo ir à escola normalmente, mas a maioria precisa de uma escola especial, mais calma, com professores especiais.

Os autistas são muito inteligentes e práticos, quando estabelecem uma relação de confiança são muito afetuosos, assim como qualquer outro ser humano, apenas possuem um jeito autêntico de ver o mundo.

Bibliografia: American Psychiatric Association.(2014). DSM-V: Manual de diagnóstico e estatística das perturbações mentais (5.ª ed.). Lisboa: Climepsi;

https://www.fpda.pt/autismo;

https://www.saudecuf.pt/mais-saude/doencas-a-z/autismo;

https://vencerautismo.org/autismo/.

Perturbações do Sono 

O sono tem a função de restabelecimento do corpo, de reorganização e consolidação de memórias, preparando o cérebro para as tarefas que requerem atenção, vigilância, aprendizagens e regulação emocional.

O sono nas crianças é essencial para o normal crescimento e desenvolvimento, quer nos aspectos físicos, quer emocionais, pois favorece, em condições normais, no bebé, o desenvolvimento de processos de auto-regulação fundamentais para o seu desenvolvimento emocional e interacções sociais futuras.

No entanto, muitas das vezes pode transformar-se num momento particularmente difícil e angustiante, com possível deterioração na relação precoce entre pais e filhos, com eventual compromisso do desenvolvimento. Os problemas de sono na infância são comuns e não têm todos o mesmo significado, pois dependem da natureza do problema, da intensidade, dos sinais associados, da idade em que ocorrem e a sua evolução. 

Nas suas formas mais graves, e independentemente da idade, causam impacto significativo no dia-a-dia das crianças e famílias, quer do ponto de vista social, quer comportamental, emocional e académico.  

Se o seu filho apresenta problemas em adormecer persistentes no tempo, como a recusa em deitar-se, dificuldades em iniciar ou manter o sono depois de acordar sem a presença dos pais, ter despertares abruptos noturnos onde fica desorientado e confuso, apresenta enurese noturna e onde nenhuma técnica parece resolver a situação procure a ajuda de um profissional especializado. 

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